Tive um diagnóstico tardio

março 19, 2023 Por EDUARDO  Nesse primeiro post falarei do meu diagnóstico tardio. Eu tive meu diagnóstico de autismo no final de 2019 quando já estava com 44 anos. Eu nunca tinha imaginado que pudesse ser autista. Na verdade nunca tinha parado para entender o que era o Autismo. A minha visão era de autismo de nível médio ou alto que eu via em filmes e novelas. Aquela pessoa com dificuldade extrema de comunicação, com tiques nervosos e que tinha decorado todas as espécies de dinossauros, marcas de carro ou bandeiras de todos os países. Isso não de encaixava no meu perfil. Eu sempre fui muito calado e reservado. Quase não conversava quando estava com mais pessoas e sempre ouvia piadinhas do tipo: “vamos ficar calados para escutar a voz do Eduardo” ou o “Eduardo está falando tanto que está incomodando”. Era chato ouvir isso mas sempre tentava ignorar para não me estressar. O fato de ser calado e ter poucos amigos me incomoda desde a época da faculdade. Foi o que me levou a buscar ajuda profissional com terapia. Fiz muitos anos de terapia com algumas psicólogas diferentes e nenhumas dela levantou a hipótese de que eu era diferente embora as minhas principais queixas sempre fossem ser muito calado e ter muita irritabilidade. Hoje eu questiono se nenhuma delas percebeu que eu pudesse ter autismo ou simplesmente acharam que me dar um diagnóstico seria prejudicial para mim. Na época do meu diagnóstico eu estava em terapia mas quem levantou a hipótese foi uma amiga e colega de trabalho. Ela disse que conhecia alguns autistas com o mesmo comportamento meu e que eu poderia ter Aspeger (esse nome não costuma ser mais usado para designar autismo leve mas foi através dele que passei a pesquisar o assunto). Antes de perguntar para a psicóloga, eu pesquisei sobre o assunto na internet e assisti alguns conteúdos no YouTube produzidos por autistas. Tudo se encaixou. Finalmente eu tinha me compreendido. Tinha uma explicação para eu ser “diferente”. Quando eu levantei a hipótese na sessão de terapia acabei tomando um banho de água fria com a psicóloga tentando questionar esse possível diagnóstico. Parecia que era uma coisa ruim eu ter um diagnóstico. De qualquer forma, ela me indicou uma psiquiatra com mais experiência em autismo que confirmou o diagnóstico. Não é ruim ter um diagnóstico. É ruim ficar sem saber o que acontece com você. Ficar insistindo, com técnicas erradas, em consertar algo que não pode ser consertado. Ficar se frustrando por voltar semana a semana na terapia e sentir que não houve evolução ou que a evolução foi pequena. Não tenho nada contra terapia. Até gosto bastante. É um ambiente em que me sinto seguro e que posso conversar a vontade. Só seria mais produtivo se técnicas ais direcionadas para tratamento de autismo tivessem sido aplicadas e se eu tivesse consciência mais cedo do meu problema. Ter autismo não é ruim. Claro que existem dificuldades de relacionamento, explosões de raiva e outros problemas mas me vejo como um super herói. Eu tenho habilidades que outras pessoas não tem. Empresas querem contratar somente autistas por conta dessas habilidades. E agora eu sei lidar com minhas dificuldade. Não virei uma pessoa extrovertida mas me sinto mais a vontade sendo introvertido. Não parei de ter explosões de raivas mas quase acabei com elas porque entendo os gatilhos e consigo diferenciar se aquela raiva tem um motivo real ou é causada por uma frustração sem importância. E ainda tenho uma vaga de estacionamento reservada para mim pertinho da entrada do shopping… Gostaria de ouvir a opinião de pais, autistas, psicólogos e psiquiatras nos comentários. Eu sou a favor que o autista merece sempre ter um diagnóstico, independente da sua idade. O que vocês acham?

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